domingo, 31 de maio de 2009

O Presente

O dia estava quente, sem nuvens para tapar a intensidade do sol. Estava no meio de um terreno muito hostil, sem qualquer tipo de coisa com que pudesse me alimentar, estava com fome. Sem muito que fazer continuei andando. Foi então que vi uma casa, não uma casa comum, era grande, bonita demais para estar para estar em um terreno tão pobre. Resolvi me aproximar.

Quando cheguei mais próximo, notei que a porta era de uma madeira nobre, a cada passo que dava em direção à casa percebia novos detalhes, era realmente digníssima. Muito sem graça e bastante relutante bati com esperança de que o dono não fosse rude comigo e me ajudasse a sair da situação que me encontrava.

Depois de esperar um pouco (a casa só era habitada por uma pessoa, que demorara para abrir a porta por estar atravessando os salões grandiosos), surgiu um homem de vestes magníficas, como as de um rei. Surpreendentemente, deu-me um abraço e disse que estava muito feliz em receber uma visita tão inesperada. Disse-me que só via pessoas de muito em muito tempo, por isso estava tão feliz, mesmo sendo uma visita tão imprevista.

Mostrou-me os cômodos de sua casa e me convidou para passar o dia lá. Foi uma recepção mui calorosa, deu-me de come, lugar para dormir, entre muitas outras coisas. Conversamos bastante durante a noite e, muito curioso, perguntei como ele tinha tanta coisa para comer, se estava numa terra tão desolada, ao passo que ele me respondeu que gostava muito de sair para caçar. Bem, como ficava tão só, imaginei que saísse bastante para suas caças, por isso tinha uma dispensa completa.

Apreciei muito a conversa e caí em sono profundo. Tive uma noite mui excelente.

Na manhã seguinte, acordei e a mesa do café já estava posta, sabia que iria sair cedo. Sentei-me e tomamos café juntos. Logo deu a hora de sair, estava muito bem cuidado e bem alimentado.

Quando estávamos perto da porta, ele retirou do bolso uma sacola preta, de aparência muito ruim e deu-me de presente, com o aviso de que iria usar o que estava ali dentro mais tarde. Aceitei o presente e saí de sua casa, porém quando estava meio distante joguei o presente fora, sem ao menos olhar o que era, pois pensei: “Como alguém tão poderoso, tão nobre, dono de uma casa tão bela, pode me dar algo assim, feio e velho?!” e segui viagem. Só notei que com o vento forte a sacola voou até que sumiu de minha vista.

Andei por dias, até que, como imaginei, a paisagem mudou de súbito. De repente estava frente a frente com um imenso deserto e o calor já estava começando a me dar sede. Continuei seguindo caminho, mas o mar de areia parecia não ter fim, estava a ponto de esmorecer, até que uma leve brisa fez com que um punhado de areia voasse e, olhando mais atentamente, vi uma sacola preta balançando suavemente com o vento. Fui até ela e, quem diria, era a mesma sacola que o senhor que me hospedara havia me dado. Sem muita esperança, abri e, quando retirei o que tinha lá dentro, exultei de alegria, era um cantil cheio de água.

Quem diria que uma preciosidade tão grande para mim estaria lá, naquela sacola feia e velha? Então, em um misto de vergonha (sendo muito ingrato por ter desprezado o presente dado a mim de bom grado) e de alegria (por encontrar água em um deserto tão quente), renovei meu ânimo e continuei andando para atravessá-lo.

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