quinta-feira, 9 de julho de 2009

A Sina de uma Escolha

Resolvi continuar minha viagem rumo ao endereço do passaporte que recebi do meu primeiro encontro com o Viajante. Depois que saí do deserto, algumas coisas aconteceram, que relatarei mais tarde, porém, para a história que se segue, é importante dizer que, tive um encontro muito penoso com a Tristeza e a Solidão. Consegui espantá-las do meu caminho com muito esforço e, cheguei muito debilitado, a uma floresta. Aqui sim, começa o que realmente quero contar.

Quando cheguei à floresta o sol estava começando a se pôr e, eu estava muito fraco para procurar algo para me alimentar, quando vi três animais se aproximarem mansamente: um urso, uma raposa e uma pequena lebre.

Todos três estavam movidos de compaixão, pois minha situação era lamentável. O urso, por ser um caçador muito habilidoso, foi a um rio próximo, pegou um peixe e trouxe-o para que me alimentasse dele.

A raposa, com sua astúcia e agilidade, rapidamente foi até uma vinha próxima e trouxe-me um cacho de uvas para que me alimentasse dele.

A pequena lebre, por não possuir nenhuma habilidade notória como a dos outros animais, ficou parada, me observando enquanto me alimentava. Porém, havia pouca comida e eu estava muito fraco, a energia que consegui repor comendo só serviu para ajuntar alguns galhos secos e aceder uma pequena fogueira, pois já era noite e estava começando a esfriar.

À medida que a noite se aprofundava me sentia mais e mais debilitado, até que chegou o momento que estava prestes a desfalecer. Os três animais vendo que isso iria acontecer muito se entristeceram, todavia estavam incapacitados de fazer algo. Senti minha vida como a chama da fogueira: fraca, se extinguindo.

Porém, a pequena lebre, que não possuía nada que visivelmente me ajudasse, movida de intenso amor, correu de encontro à chama que estava quase apagando e, se atirou dentro do fogo. Sua carne juntamente com a compaixão fez com que o fogo aumentasse e, pouco a pouco ela ia sendo consumida por ele, agora mais intenso. Perto do local, consegui ouvir seus gemidos de dor quase que insuportáveis (eles ecoaram dentro de mim, abalando qualquer estrutura) e, de seus olhos emanava um brilho intenso, demonstrando que, mesmo ali, sofrendo, ela estava feliz em entregar sua vida pela minha. Não me contive. Uma torrente de água salgada emanava de meus olhos, vendo a pobre lebre sendo consumida para tentar me salvar, não só do frio, mas também, de bom grado me oferecendo sua carne, para que pudesse comê-la e ser revigorado.

No fim de tudo, estava lá, o corpo da pobre lebre, inerte, sem vida, mas ao mesmo tempo cheio dela. Vida foi isso que invadiu meu ser ao comer aquela carne, não só pelos nutrientes, mas também pelo amor que ela demonstrou.

Sim, a sina de uma escolha: amar.